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domingo, 27 de abril de 2014

Fargo 1×02: The Rooster Prince

Todos os segredos dormem em roupas de inverno.
Fargo nunca funcionaria se fosse ambientada em uma cidade quente. Isso porque o frio serve para um monte de detalhes que justificam a minissérie. Um deles se refere justamente ao seu humor negro, visto que no audiovisual, o clima frio é constantemente associado à frieza de situações ou de personagens. Outra forma que o frio encontra para ajudar a caracterizar o universo da minissérie acontece na maneira como todos os personagens se vestem e também como caminham de um jeito desengonçado na neve. O novo chefe de polícia Bill Oswalt usa um chapéu extravagante, Lester utiliza jaquetas antiquadas e cafonas, e isso ajuda a ditar o tom cômico presente em muitos momentos, além de construir personagens peculiares. Não se espera que o espectador chore de rir desses pequenos detalhes, mas eles são fundamentais para justificar um mundo insano composto por personagens insanos. Sem contar que o figurino representa muito bem o modo de vida dos que vivem nas pequenas cidades do interior dos Estados Unidos.
Ainda ao tratar da produção, observa-se que a cidade onde a trama se desenvolve é pacata e conservadora, e ao trazer o caos para a vida de personagens tão comuns, acaba intensificando suas ações e reações. Imagine se tudo isso acontecesse em uma cidade grande, onde a violência é algo banal? O impacto na vida dos personagens (e consequentemente na narrativa) seria muito menor, e assim, talvez a minissérie se tornaria desinteressante. O que importa aqui é ver como personagens “comuns” postos a prova, agem perante dificuldades e atipicidades. Ainda por ser ambientada em um lugar frio e sem sal, ao agir, os personagens intensificam o senso de urgência e a magnitude dos acontecimentos, e tudo se torna um pouco mais excitante. Essa configuração de cidade tradicional ainda influencia a maneira como a comunidade se relaciona, existe um senso de companheirismo e de saudosismo, visto na conversa entre o chefe de polícia Bill Oswalt e Lester, ao relembrarem a escola e o chiclete que consumiam quando crianças. Também pode se ver isso nas grandes quantidades de comida dos velórios. Ou como as pessoas relembram colegas que fizeram parte de sua vida há muitos anos com facilidade.
Pode-se perceber ainda que o surto de violência que atingiu a cidade possivelmente se intensificará. É o típico caso de um crime que acaba levando a outro. No fim, parece que se Lorne Malvo não tivesse batido o carro, nada mais teria acontecido e todos continuariam levando suas vidas tranquilamente. Inevitavelmente isso leva ao questionamento de como pequenos acontecimentos mudam rumos com facilidade. É claro que Lester sentia-se insatisfeito com sua esposa, mas dificilmente agiria da forma que agiu se não tivesse conhecido Lorne Malvo e se não fosse envolto na aura caótica do misterioso assassino. Essa cadeia de eventos (que provavelmente ainda não se encerrou) traz consequências sérias para muitos dos personagens que foram arrastados para dentro desse furacão de forma não intencional, como a esposa do antigo chefe de polícia, por exemplo. O interessante é que a série parece não se importar muito com eles, e ao percorrer essa linha fina entre o drama e a comédia, lida com o luto e com a dor de forma superficial, justamente para não carregar seu tempo de tela com arcos que não são extremamente importantes para seu bom desenvolvimento.
A série ainda deixa à percepção do espectador o que considerar um “arco central”, pois parece lidar com Lester e Lorne Malvo de maneiras semelhantes. Não se pode dizer que alguém teve mais destaque, pois como são consequências de uma mesma “tragédia”, nada mais justo que sejam desenvolvidos igualmente. Talvez a policial Molly Solverson seja a pessoa responsável para unir arcos, caso essa seja a intensão da série. No fim, Fargo parece uma eterna perseguição. Investigações (tanto por parte da polícia como dos criminosos que perseguem o assassino de Sam Hess) estão em andamento e esclarecer dúvidas parece ser uma das principais metas a se cumprir, mas em Duluth tudo parece lento e processual. E é interessante que mesmo assim, a série consegue transmitir velocidade e intensidade em seus arcos. Fargo cria um mundo tão frio e cruel, que com certeza existem muitas maneiras atípicas de se conseguir arrancar a verdade de alguém.
Outras Observações:
O policial Gus Grimly e sua filha Greta parecem distantes do resto da minissérie, mas seu discurso para a menina, buscando justificar a atitude de deixar Lorne Malvo escapar foi profundo e justo. Seu envolvimento parece primordial na busca por respostas.
Perceba a quantidade de “yeah” que os personagens falam. O regionalismo da série é bem cômico.
Lorne Malvo dirige-se ao vaso sanitário logo após ser ameaçado. A melhor maneira de falar “I don’t give a shit”.
A direção de Fargo sempre merece elogios: nesse episódio coloca Stravos Milos (que se considera o rei dos mercados) em um plano contra-plongé e ao fundo uma coroa encaixa-se perfeitamente em sua cabeça. Bravo.
  - @meadowlands654
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